Os mais recentes balanços dos bancos mostram que as modalidades de crédito que exigem algum tipo de garantia – como recebíveis, alienação fiduciária de bens (imóveis ou veículos) ou desconto em folhas de salários – exibem crescimento significativo nos últimos doze meses até setembro. O Bradesco registrou que sua carteira de crédito consignado avançou 24,1%, para R$ 60,2 bilhões, ante o estoque de R$ 48,5 bilhões em setembro de 2018. No financiamento imobiliário, o volume evoluiu 15,9%, indo para R$ 42,9 bilhões, frente os R$ 37 bilhões no mesmo período do ano passado.
No Itaú, o saldo de crédito para veículos aumentou 18%, para R$ 18 bilhões, ante R$ 15,2 bilhões em setembro de 2018, enquanto o financiamento de imóveis subiu 8,7%, de R$ 41,2 bilhões para R$ 44,8 bilhões. No mesmo período comparativo, o empréstimo consignado no Santander Brasil saltou 25,6%, para R$ 40,6 bilhões, e a carteira voltada para imóveis cresceu 12,7%, para R$ 35,5 bilhões. Em instituições menores, como o Banco Pan, parceria do BTG Pactual e Caixa Econômica Federal, o empréstimo consignado avançou 25%, para R$ 12,8 bilhões na carteira, e o financiamento de veículos disparou 26%, alcançando R$ 8,2 bilhões em saldo, o melhor desempenho percentual entre os players citados nesse segmento. “Nós aumentamos nosso market share. O banco vive seu melhor momento nas áreas onde atua: em consignado, veículos e cartões”, diz o CEO do Banco Pan, Carlos Eduardo Guimarães.
O executivo destaca que o lançamento do banco digital, no mês que vem, irá contribuir ainda mais para a expansão em empréstimos consignados e no financiamento de automóveis. “Desde maio, já fazemos a formalização digital no crédito com desconto em folha, com R$ 1,2 bilhão em carteira. E também vamos lançar a formalização digital para veículos, até o final do ano”, afirma. Sobre os resultados trimestrais, Guimarães também lembra que o Banco Pan utilizará recursos da captação via oferta primária de ações (follow-on) para aumentar a oferta de crédito. Quanto aos juros praticados, ele diz que a queda da Selic contribui para a redução das taxas praticadas no setor. “Atuamos em mercados bastante competitivos nesses produtos”, afirma.
Segundo o último boletim do Banco Central, os financiamentos para empresas com recursos livres também aumentaram em linhas com recebíveis de crédito. A concessão na modalidade de desconto de duplicatas e recebíveis disparou 28,5% em setembro, enquanto a antecipação de faturas de cartão saltou 18,48%, ambas em relação a idêntico mês do ano anterior. Em doze meses, o saldo em desconto de duplicatas e recebíveis teve expansão líquida de R$ 22 bilhões, do montante de R$ 72,3 bilhões em estoque para um total de R$ 94,3 bilhões. Na linha de antecipação de faturas de cartões, a expansão líquida foi de R$ 6,5 bilhões, de R$ 33,4 bilhões, em setembro de 2018, para R$ 39,9 bilhões, em setembro deste ano.
RECURSOS LIVRES - Em números gerais, o crédito livre para pessoas físicas subiu 16,3% em 12 meses, para R$ 1,1 trilhão, e na pessoa jurídica houve elevação de 9,3%, para R$ 847 bilhões. É um desempenho bem diferente do recurso direcionado, onde o volume para empresas encolheu 12,6% para R$ 583 bilhões, e as operações para pessoas físicas subiram 5,8%, ainda destacadas pelas modalidades rural e imobiliário. Para Nicola Tingas, economista da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), há uma recuperação cíclica do crédito no País. “É gradual, lenta, mas consistente nesse segundo semestre”, afirma. Na visão dele, o crédito está evoluindo por causa do efeito “formiguinha” dos pequenos negócios que experimentam uma retomada. “Os juros do cheque especial, do Hot Money e do cartão de crédito continuam elevados. Mas, nas demais modalidades, onde há segurança jurídica para executar garantias, as taxas estão caindo”, diz. Tingas complementa que o cenário para os próximos 18 a 24 meses é de taxa básica de juros (Selic) na mínima histórica e com inflação baixa. “Com o Cadastro Positivo, a tendência é de uma queda importante dos juros na ponta”, afirma o economista.
Em argumentação semelhante, Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de estudos e pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), contextualiza que os bancos vão ser muito cautelosos no crédito. “As linhas com garantias maiores vêm melhorando, descontos de duplicatas, antecipação de recebíveis de cartões. As taxas de juros estão sendo reduzidas e os spreads caindo, mas, o volume ainda demora a se recuperar, pois há riscos pela frente: desemprego alto e endividamento das famílias”, diz.
Já na visão de Vitor França, economista da Boa Vista, a inadimplência está baixa. “Houve uma leve alta na pessoa física no cheque especial e no cartão de crédito. Mas, na pessoa jurídica, temos um processo forte de desalavancagem, com a inadimplência bastante baixa”, diz. Ele notou que crescimento maior do saldo de crédito para pequenas e médias empresas (+7%) é um fenômeno relativamente novo no Brasil, ao passo que as grandes companhias estão indo captar recursos no mercado de capitais, via emissão de debêntures. “Com as maquininhas, a oferta de produtos financeiros se espalhou para comércio e serviços. O advento das contas digitais abre um leque para os pequenos negócios, segmento ao qual os bancos estão dando mais atenção”.
RETOMADA EM AUTOMÓVEIS - De acordo com levantamento do Sistema Nacional de Gravames (SNG), operado pela B3, as vendas financiadas de veículos em setembro de 2019 somaram 508,4 mil unidades, entre novos e usados, incluindo autos leves, motos e pesados. Esse número representa um aumento de 19,8% em relação a setembro de 2018. Desse total, 189,2 mil representam veículos novos, 15,9% a mais do que em setembro do ano passado, e 319,2 mil, de usados, alta de 22,2% na mesma base de comparação.
Entre os exemplos em balanços, a carteira pessoa física do Santander para financiamento/leasing de veículos aumentou 17,5% para R$ 2,5 bilhões no terceiro trimestre, enquanto o saldo voltado para empresas (pessoas jurídicas) avançou 16,6%, para R$ 3,6 bilhões. “No crédito para veículos, estamos vivenciando as menores taxas de juros da história do País, não só no Santander, a partir de 0,7% ao mês, mas em todo o segmento”, afirma o diretor da Santander Financiamentos, André Novaes. Vale citar que ações promocionais de montadoras anunciam “taxa zero” em determinadas condições para reduzir o estoque de unidades nos pátios, o que na prática representa descontos das fabricantes para os clientes na aquisição de novos veículos.
Novaes lembrou que as instituições financeiras aprenderam com os erros do passado. Segundo ele, antes do início da crise econômica no Brasil, “houve certo exagero” no volume dos empréstimos para aquisição de automóveis (sem entrada) e nos prazos, até sete anos para pagar, com prestações a perder de vista. “O crédito volta agora de forma moderada, pouco a pouco, com os bancos tentando fazer isso de maneira sustentável. Para o mercado de carros usados, 2019 é um ano de retomada, e a venda direta de novos tem melhorado, mês a mês, junto com o emprego”, diz.
Para Alexandre Henrique Gil, superintendente executivo do Banco Safra, há um cenário de redução nas taxas de juros e projeção de uma retomada mais consistente da economia em 2020. “O que nos deixa ainda mais otimistas. Mesmo num cenário de crise, nos últimos cinco anos crescemos nossa carteira em 260%”, diz. Quanto ao risco de crédito na financeira, Gil destaca que o Banco Safra possui uma das menores taxas de inadimplência (2%) do mercado. “Isso demonstra que estamos no caminho certo em nossa estratégia, unindo uma análise moderna de risco com linhas de crédito flexíveis, capazes de se adequar a diferentes momentos da vida do consumidor”.
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