sexta-feira, 15 de maio de 2020

Venda de imóvel para alta renda sofreu mais



As vendas de imóveis dos padrões médio e alto foram bem mais atingidas, negativamente, desde o início da pandemia de covid-19 do que as de unidades enquadradas no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. Boa parte das aquisições feitas pelo segmento de média e alta renda tem como objetivo a migração para um produto de melhor padrão ou maior tamanho, e essa faixa é mais afetada pelos indicadores de confiança. Já na baixa renda, há concentração do maior déficit habitacional, e a compra de uma unidade significa, muitas vezes, a substituição do pagamento do aluguel pelo da prestação do primeiro imóvel.
A Cyrela teve queda significativa das vendas, principalmente, nos produtos de médio e alto padrão, enquanto a comercialização de unidades enquadradas no programa foi menos afetada, conforme o diretor financeiro, Miguel Mickelberg. Ainda assim, a incorporadora avalia a possibilidade de realizar dois lançamentos virtuais, em São Paulo, fora do programa habitacional. “São projetos em que acreditamos bastante no preço e no potencial”, diz o executivo. Empreendimentos do Minha Casa, Minha Vida poderão ser lançados pelas joint ventures Cury e Plano & Plano.
Segundo Mickelberg, a Cyrela teve um pequeno aumento de inadimplência desde o início da pandemia. Para a maioria dos clientes que solicitaram renegociação do financiamento, a companhia fez a concessão ou parcelou pagamentos. Não houve volume relevante de distratos, conforme o diretor. A incorporadora continua avaliando terrenos para compra e ainda não sentiu mudança brusca de preços da principal matéria-prima para a incorporação imobiliária. Para reforçar seu caixa, a Cyrela captou R$ 400 milhões em abril.
De janeiro até a primeira quinzena de março, a EZTec vendia R$ 45 milhões por semana, patamar que caiu para R$ 4,5 milhões, do início da quarentena até o fim de abril. A comercialização se concentrou em unidades do Minha Casa, Minha Vida. “As pessoas estavam em choque, pensando se iam perder o emprego”, diz o diretor financeiro e de relações com investidores, Emilio Fugazza. Desde meados do mês passado, a empresa passou a ter vendas iniciadas e concluídas online. A partir do final de abril, a comercialização semanal têm sido de R$ 10 milhões. “Aprendemos a trabalhar melhor as vendas online. Tem havido paulatina recuperação das vendas para a média renda e, depois, para a alta renda”, conta Fugazza.
A EZTec pretende se concentrar na venda de seu estoque de R$ 1,9 bilhão - R$ 700 milhões são de unidades prontas - e não planeja fazer lançamentos até julho. O fato de a Prefeitura de São Paulo não estar operando a pleno vapor na liberação de licenças também afeta a apresentação de projetos ao mercado. “Pensamos em fazer lançamentos no terceiro ou quarto trimestre”, diz o diretor de relações com investidores.
As vendas da Tenda, que tem foco no programa habitacional, não têm sido um gargalo para a companhia. “Quando começou a crise, tomamos muitas medidas para acelerar nossa inserção digital. Em abril, tivemos o melhor desempenho do ano, e o mês de maio está a contento”, diz o diretor financeiro e de relações com investidores, Renan Sanches.
Em abril, a Tenda fez três lançamentos virtuais. A maior dificuldade da companhia para apresentar mais projetos ao mercado está nos prazos mais lentos para a obtenção de licenças junto aos órgãos públicos. No momento, a incorporadora tem 19% de suas obras paralisadas por decretos públicos, parcela que chegou a ser de 25%. A maior preocupação em relação às obras, no momento, é com a contaminação de trabalhadores, à medida que o vírus está se espalhando mais para regiões periféricas. Devido à ausência de quem for contaminado, pode haver queda da produtividade, segundo Sanches.
Cyrela, EZTec e Tenda divulgaram, ontem, os respectivos balanços do primeiro trimestre.
O lucro líquido da Cyrela caiu 42,3%, na comparação anual, para 28 milhões. A receita líquida teve queda de 7,4%, para R$ 765 milhões. O resultado líquido teve impacto positivo de R$ 4 milhões da participação da companhia no resultado da Cury e efeito positivo de R$ 33 milhões de operação com o Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB). Por outro lado, foram registrados impactos negativos de R$ 30 milhões de perdas com ações de Tecnisa e Cyrela Commercial Properties (CCP), na rubrica “outros resultados de investimentos” e de R$ 31 milhões de contingências judiciais.
A EZTec elevou seu lucro líquido em 4,49 vezes, para R$ 77,7 milhões. A receita líquida aumentou 70%, para R$ 249,5 milhões. A margem bruta cresceu de 37,2%, para 40,6%. Segundo Fugazza, as margens poderão ser mantidas.
Já o lucro da Tenda caiu 64,6%, para R$ 17,6 milhões. Provisões para distratos tiveram impacto negativo de R$ 4,5 milhões. Houve aumento da provisão para perdas estimadas em créditos de liquidação duvidosa decorrente do impacto da covid-19 na inadimplência de março. A margem bruta ajustada caiu quatro pontos percentuais, para 31,8%. As despesas com vendas cresceram 46,7%, para R$ 48 milhões. O resultado financeiro foi negativo em R$ 3 milhões.

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