terça-feira, 30 de agosto de 2022

Destino de programa habitacional não preocupa mercado


O destino do programa Casa Verde e Amarela (CVA), criado pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) para substituir o Minha Casa Minha Vida (MCMV), concebido na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entra em debate com a proximidade da eleição presidencial, em outubro.

 

Em encontro com representantes de entidades do mercado imobiliário, na terça-feira (23), Lula afirmou que, se vencer o pleito, vai relançar o Minha Casa Minha Vida, sem dar detalhes de como o programa seria. Membros da sua campanha já afirmaram nos últimos meses que o programa deve voltar a dar mais subsídios para as faixas de menor renda da população.

 

José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), que estava presente no encontro, afirma que é preciso injetar mais dinheiro na habitação, mas ressalta que o programa não pode repetir o que ocorreu com a faixa 1 no passado, quando obras contratadas tiveram que ser paralisadas por falta de recursos.

 

Em 2021, o orçamento do CVA foi de cerca de R$ 1 bilhão, enquanto já chegou a ser de R$ 21 bilhões em 2015, ano recorde. Porém, caiu para menos da metade em 2016. Segundo Martins, é necessário ter algo no meio desses indicadores, para que não seja pouco dinheiro, nem uma medida irresponsável. “Tem algum número aqui no meio que traz sustentabilidade ao longo do tempo, para que as empresas possam se planejar e investir em inovação tecnológica”, diz.

Martins afirma que a faixa 1 do MCMV foi “traumática” para o setor construtivo, mas que ela é necessária, porque há um contingente de brasileiros que não conseguem pagar parcelas de financiamento imobiliário e precisam de mais subsídios.

 

O mercado imobiliário aguarda a eleição para saber qual será o nome da política habitacional em 2023, mas há tranquilidade sobre sua continuidade, seja qual for o eleito. Para um analista, os benefícios sociais e de geração de emprego do programa são grandes e reconhecidos demais para que haja risco de seu fim.

 

Tanto é que as mudanças recentes anunciadas na curva de subsídios e o aumento da renda máxima permitida no CVA são formas do governo atual tentar melhorar o desempenho do programa, afirma o analista, que prefere ficar no anonimato.

Uma dessas mudanças foi sancionada nesta quarta-feira (24) pelo presidente Jair Bolsonaro. É o prolongamento do financiamento imobiliário com recursos do FGTS, que poderá passar de 30 para 35 anos. A Caixa já afirmou que vai adotar o prazo maior de financiamento.

 

As alterações devem ajudar a aumentar o acesso de quem mais precisa ao programa habitacional, que teve sua participação no total de lançamentos imobiliários reduzida de 48% em junho de 2021 para 36% no mesmo mês deste ano, de acordo com dados da Cbic. Nas vendas, a participação das unidades do CVA caiu de 49% para 44% no mesmo período.

 

Para o ano, a expectativa é que os financiamentos imobiliários com recursos do FGTS, como os do programa habitacional, aumentem 31%, informou a Associação Brasileira das

Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), no início do mês. A entidade projeta que serão utilizados quase R$ 250 bilhões nas modalidades de financiamento, queda de 4% ante 2021, mas ainda assim o segundo melhor ano da história para o crédito imobiliário no país. Há queda prevista de 12% nos financiamentos com recursos da poupança, do SBPE.

 

As unidades financiadas com dinheiro da poupança são as de médio e alto padrão, que passam por momento complicado por causa do aumento da taxa de juros, dos preços dos imóveis e da queda de poder de compra dos consumidores, devido à inflação.

Tudo isso apareceu nos resultados das incorporadoras de capital aberto que atuam nesses segmentos, divulgados neste mês.

 

Em relatório, a equipe de analistas do Itaú BBA ressaltou que os executivos percebem a demanda ainda fraca e que há divergências sobre a capacidade de elevar mais os preços das unidades. Há preocupação, ainda, com o aumento de imóveis em estoque. O lado positivo, afirmam, é que a pressão sobre o preço das matérias-primas da construção diminuiu e a alta do custo dos trabalhadores do setor não se tornou um grande problema.

A perspectiva mais positiva para os juros e a inflação no futuro já impactam as ações das incorporadoras, que estavam “muito depreciadas”, aponta Fanny Oreng, head de real estate do banco Santander. “Agora vimos um rali muito forte, a curva de juros começou a fechar e aí não adianta, esse setor voa mesmo, porque é muito dependente de juros”, explica

 


 

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